Autocyberbullying na adolescência

emoções, reprovação escolar e outros fatores associados

  • Maria Felícia´ Henriques de Figueiredo Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra
  • Armanda Pinto da Mota Matos Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra

Resumo

O autocyberbullying traduz uma forma de autoagressão premeditada e anónima, concretizada predominantemente nas redes sociais, nos jogos online e SMS. As vítimas autoagressivas procuram, sobretudo, aliviar estados de angústia, raiva e frustração, alertar para situações de vitimização por qualquer forma de bullying ou conquistarem atenção. A prevalência desta forma de autoagressão digital entre os adolescentes portugueses permanece desconhecida. Este estudo exploratório, transversal, descritivo e quantitativo teve como objetivo conhecer a prevalência do autocyberbullying, a sua relação com algumas variáveis sociodemográficas e com a reprovação escolar. Participaram 914 adolescentes do 3º ciclo, sendo 50,3% rapazes. Foi usado o Questionário Perceção dos Alunos sobre Autocyberbullying, aplicado online. Realizaram-se análises estatísticas, descritivas e inferenciais. Como principais resultados destacam-se a prevalência de 7,4%, sendo 68,7% rapazes e a correlação significativa entre a reprovação e autocyberbullying. Verificou-se que, no grupo de autocyberbullies, os alunos que já tinham reprovado apresentavam uma média de frequência do comportamento autocyberbullying, superior à dos que nunca tinham reprovado. Evidencia-se que o mal-estar que este comportamento proporciona requer a atenção dos profissionais da saúde, da educação e dos pais, a definição de políticas conjuntas de educação e saúde e uma intervenção que previna este comportamento nos adolescentes. Sugere-se que combater o insucesso pode constituir uma estratégia de intervenção secundária que vise prevenir o autocyberbullying. É importante retomar o tema em estudos futuros de caráter mais amplo. 

Referências

BANDURA, A. Social learning theory. Oxford, England: Prentice-Hall, 1977.

BAUMAN, S.; TOOMEY, R.; WALKER, J. Associations among bullying, cyberbullying,and suicide in high school students. Journal of adolescence, v. 36, n. 2, p. 341-350, 2013.

BENTO, A. O Cyberbullying no Contexto Português. 2011. (Mestrado). Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade da Beira Interior, Covilhã.

BORGES, C. À flor da pele: Algumas reflexões a propósito de um estudo de caso sobre autolesão. 2012. (Mestrado). ISPA - Instituto Universitário das Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida

BOYD, D. Digital Self-Harm and Other Acts of Self-Harassment 2010.

BOYD, D.; RYAN, J.; LEAVITT, A. Pro-self-harm and the visibility of youth-generated problematic content. ISJLP, v. 7, n. 1, p. 1-32, 2011.

CAETANO, A. et al. Emoções no cyberbullying: um estudo com adolescentes portugueses. Educação e Pesquisa, v. 42, n. 1, p. 199-212, 2016. ISSN 1678-4634.

CALVETE, E. et al. Prevalence and functions of non-suicidal self-injury in Spanish adolescents. Psicothema, v. 27, n. 3, p. 223-228, 2015.

CARMO, R. Relações entre Crianças e Jovens em Instituições de Acolhimento. 2013. (Mestrado). Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Portalegre, Portalegre.

CASTILHO, P.; GOUVEIA, J.; BENTO, E. Auto-criticismo, vergonha interna e dissociação: a sua contribuição para a patoplastia do auto-dano em adolescentes. Psychologica Coimbra, v. 2, n. 52, p. 332-358, 2010. ISSN 0871-4657. Disponível em: < Retrived from http://iduc.uc.pt/index.php/psychologica/article/view/1060 >.

COSTA, P.; PEREIRA, B. O bullying na escola: a prevalência e o sucesso escolar. In: UNIVERSIDADE DO MINHO, C., I Seminário Internacional Contributos da Psicologia em Contexto Educativo, 2010, Braga. p.1810-1821.

CRICK, N.; DODGE, R. A review and reformulation of social information-processing mechanisms in children's social adjustment. Psychological Bulletin, v. 115, n. 1, p. 74-101, 1994.

DAMÁSIO, A. O sentimento de Si. Lisboa: Europa América, 2000. ISBN 9789721047570.

EKMAN, P. Qué dice ese gesto? Integral. Barcelona La Magrana, 2004.

ENGLANDER, E. Digital self-harm: Frequency, type, motivations, and outcomes. Massachusetts Aggression Reduction Center. Massachusetts 2012

FARIA, C. Quando a agressão virtual coloca em risco a vida real: Cyberbullying, perceção do suporte social e ideação suicida. 2015. Mestrado (Mestrado). ISPA - Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida, Lisboa.

FARRINGTON, D.; LOEBER, R.; VAN KAMMEN, W. Long-term criminal outcomes of hyperactivity-impulsivity-attention deficit and conduct problems in childhood. In: ROBINS, L. e RUTTER, M. (Ed.). Straight and devious pathways from childhood to adulthood. New York: Cambridge University Press, 1990. p.62-81.

FELDMAN, M. Munchausen by Internet: detecting factitious illness and crisis on the Internet. Southern medical journal, v. 93, n. 7, p. 669-672, 2000. ISSN 0038-4348.

FISHER, H. et al. Bullying victimisation and risk of self harm in early adolescence: longitudinal cohort study. British Medical Journal, v. 344, p. 1-9, 2012. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3339878/pdf/bmj.e2683.pdf >. Acesso em: 12 de fevereiro de 2014.

FRANCISCO, S. et al. Cyberbullying: The hidden side of college students. Computers in Human Behavior, v. 43, p. 167-182, 2015. ISSN 0747-5632.

/GILBERT, P. Compassion and cruelty: A biopsychosocial approach. In: GILBERT, P. (Ed.). Compassion: Conceptualisations, Research and Use in Psychotherapy. Hove, East Sussex: Routledge, 2005. cap. 2, p.9-74.

GILBERT, P. et al. Criticising and reassuring oneself: An aploration of forms, styles and reasons in female students. British Journal of Clinical Psychology, v. 43, n. 1, p. 31-50, 2004.

GUERREIRO, D. Comportamentos autolesivos em adolescentes:características epidemiológicas e análise de fatores psicopatológicos, temperamento efetivo e estratégias de coping. 2014. (Doutoramento). Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa.

HABERMAS, J. Teoria de la acción comunicativa. Madrid: Taurus, 1987.

HABERMAS, J. Teoria do agir comunicativo: sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

HAWTON, K. et al. Deliberate self harm in adolescents: self report survey in schools in England. British Medical Journal, v. 325, n. 7374, p. 1207-1211, 2002. ISSN 0959-8138. Disponível em: < http://www.bmj.com/content/325/7374/1207 >.

HAWTON, K.; SAUNDERS, K.; O'CONNOR, R. Self-harm and suicide in adolescents. The Lancet, v. 379, n. 9834, p. 2373-2382, 2012. Disponível em: < http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(12)60322-5/abstract >. Acesso em: 2015/04/20.

HINDUJA, S.; PATCHIN, J. Bullying, cyberbullying, and suicide. Archives of suicide research, v. 14, n. 3, p. 206-221, 2010. ISSN 1381-1118.

KRISTENSEN, C. et al. Fatores etiológicos da agressão física: Uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, v. 8, n. 1, p. 175-184, 2003.

MARÔCO, J. Análise Estatística com o SPSS Statistics. 6. Pero Pinheiro: Report Number, Lda, 2014. ISBN 978-989-96763-4-3.

MATOS, M. et al. A saúde dos adolescentes portugueses em tempos de recessão: dados nacionais 2014. CENTRO DE MALÁRIA E OUTRAS DOENÇAS TROPICAIS. Lisboa 2014.

NUNES, C. Auto-dano e ideação suicida na população adolescente: aferição do questionário de impulso, auto-dano e ideação suicida na adolescência (QIAIS-A). 2012. (Mestrado). Universidade dos Açores, Ponta Delgada.

PATCHIN, J.; HINDUJA, S. Digital Self-Harm Among Adolescents. Journal of Adolescent Health, v. 61, n. 6, p. 761-766, 2017. ISSN 1054-139X. Acesso em: 2017/10/31.

PERREN, S. et al. Bullying in school and cyberspace: Associations with depressive symptoms in Swiss and Australian adolescents. Child and adolescent psychiatry and mental Health Promotion International, v. 4, n. 28, p. 1-10, 2010.

PINTO, T. Cyberbullying: Estudo da prevalência de comportamentos de cyberbullying e sua relação com vivências de vergonha e estados emocionais negativos. 2011. (Mestrado). Psicoterapia e Psicologia Clínica, Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra.

RASMUSSEN, S.; HAWTON, K. Adolescent self-harm: a school-based study in Northern Ireland. Journal of affective disorders, v. 159, p. 46-52, 2014. ISSN 0165-0327.

REIS, M.; FIGUEIRA, I.; RAMIRO, L. Jovens e comportamentos de violência autodirigida. Aventura Social: Promoção de Competências e do Capital Social para um Empreendedorismo com Saúde na Escola e na Comunidade. MATOS, M. e TOMÉ, G. Lisboa: Placebo, Editora LDA. 1: 259-276 p. 2012.

RISSANEN, M.; KYLMA, J.; LAUKKANEN, E. A systematic literature review: Self-mutilation among adolescents as a phenomenon and help for it-what kind of knowledge is lacking? Issues in Mental Health Nursing, v. 32, n. 9, p. 575-583, 2011. ISSN 01612840. Disponível em: < http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=a9h&AN=64486033&site=ehost-live&scope=site >.

ROCHA, G. Condutas autolesivas: uma leitura pela Teoria do Apego. Revista Brasileira de Psicologia, v. 2, n. 1, p. 62-70, 2015. Disponível em: < http://revpsi.org/wp-content/uploads/2015/04/Rocha-2015-Condutas-autolesivas-uma-leitura-pela-Teoria-do-Apego.pdf >. Acesso em: 30/09/2015.

SELFHARM UK. Self-harm statistics. United Kingdom, 2015. Disponível em: < https://www.selfharm.co.uk/get/facts/self-harm_statistics >.

VAZ SERRA, A. O auto-conceito. Análise Psicológica, v. 2, n. VI, p. 101-110, 1988. Disponível em: < http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/2204/1/1988_2_101.pdf >.

WINTERMAN, D. Cyber self-harm: Why do people troll themselves online? BBC News Magazine. Europa 2013.

Publicado
01-08-2018